sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Minha cadela está gravida??? Saiba os principais procedimentos a fazer

Gravidez, parto e filhotes – cuidados necessários.
Artigo:


 CUIDADOS COM FILHOTES DE CÃES.
Autores: Emerson Flávio Freitas Motta1, Flávia Santim1, Gustavo José von Glehn Santos1, Juracy de Souza Neto1, Prof. Dr. Cid Figueiredo2 e Prof. Marcos Affonso Ortiz Gomes3.
Fonte do artigo: Editora da Universidade Federal de Lavras – clique aqui.


1 = Estudante do 9o período do curso de Medicina Veterinária – UFLA;
2 = Orientadora: Professora de Epidemiologia do Departamento de Medicina Veterinária – UFLA;
3 = Orientador: Professor de Extensão do Departamento de Administração e Economia – UFLA;
4 = Ilustrações: Estudante do 4o período de Administração Rural – UFLA.

CUIDADOS COM FILHOTES DE CÃES


I - INTRODUÇÃO
O cão há séculos vem acompanhando a espécie humana em seu desenvolvimento, ligado por laços afetivos, como leais companheiros ou até mesmo como fonte de renda, no caso de criadores comerciais. Contudo, apesar dos longos anos de convivência, o ser humano ainda encontra dificuldades em fornecer os cuidados mínimos necessários à vida reprodutiva de seu animal, como alimentação da cadela gestante, preparativos e cuidados durante o parto e acompanhamento do filhote.
O presente trabalho tem como objetivo esclarecer os proprietários de cães sobre a importância de algumas medidas simples, de baixo custo, mas que podem refletir diretamente sobre o bem-estar não só dos filhotes, como também da fêmea gestante.


II - CUIDADOS ANTES DO NASCIMENTO

2.1 - ESCOLHA DOS PAIS
O início da vida reprodutiva da cadela ocorre, em média, em torno de seis a oito meses de idade (quando ocorre o primeiro cio), porém, o primeiro cruzamento deve ser feito a partir do terceiro cio, quando a cadela se encontra sexualmente madura, evitando-se assim, problemas da gestação e no parto.
A escolha do macho deve ser feita de forma cuidadosa, evitando-se animais parentes (irmãos com irmãs, pais com filhos), falta de compatibilidade entre tamanhos (machos muito grandes para fêmeas muito menores).
O acompanhamento veterinário dos pais deve ser realizado de modo a prevenir as doenças sexualmente transmissíveis e alterações genéticas que possam futuramente comprometer o bem-estar dos filhotes.
2.2 - PRÉ-NATAL
Existem diversos cuidados a serem tomados com a fêmea gestante, de forma a garantir um parto seguro e o bem-estar da cadela e dos filhotes.
A data prevista de parto é um dado de extrema importância; para isso o proprietário deve saber os dias em que ocorreram os cruzamentos, a fim de prever, aproximadamente, o dia em que a cadela irá parir.
A gestação da cadela varia de 58 a 66 dias. Desta forma, gestações que se apresentem fora do período normal devem ser invariavelmente encaminhadas ao médico veterinário. O proprietário deve reconhecer a importância do acompanhamento da gestação (mesmo que normal) por um veterinário, para que este tome os cuidados, como nutrição adequada da gestante, controle parasitário (carrapatos, pulgas, vermes, etc.) e vacinação.
A partir de exames mais elaborados, tais como raio-x, ultra-som e exames clínicos convencionais, pode-se avaliar se a cadela está realmente gestante, o número de filhotes e viabilidade dos fetos.


2.3 - PREPARATIVOS PARA O PARTO
O momento da parição deve ser acompanhado de alguns cuidados que proporcionem conforto e que preservem a saúde da cadela e de seus filhotes. Um destes cuidados é a caixa de cria, onde a cadela deve ser instalada pelo menos uma semana antes do parto, para que possa acostumar-se com a caixa e com o ambiente. Ela deve ser colocada em lugar tranqüilo, aquecido, com ar fresco (sem correntes de ar), seco e livre de insetos, evitando-se a presença de outros animais e o trânsito excessivo de pessoas. Suas dimensões devem permitir a livre movimentação da cadela, e seu fundo poderá ser forrado com jornais velhos, papelão ou panos que permitam o aquecimento, o conforto e uma eficiente e barata limpeza do local. A altura da caixa deverá ser suficiente para que a mãe entre mas com paredes laterais para evitar que os filhotes saiam (20 a 30cm de altura). Deverá ainda ser afastada do solo, com abertura na parte lateral e inferior para limpeza e escoamento das excretas (urina e fezes). Lateralmente, devem-se colocar barras de madeira para refúgio e proteção dos filhotes, evitando, assim, o esmagamento e traumatismos.
Algumas cadelas podem fazer seus próprios ninhos em locais escolhidos por elas, como embaixo de tanques de lavar roupa, garagens, embaixo de móveis, buracos em quintais, utilizando panos velhos e papéis que eventualmente encontre à sua disposição.
Todos esses cuidados devem ser tomados a fim de proporcionar ao animal o mínimo de estresse, evitando problemas como rejeição, falta de leite e até mesmo o canibalismo (ingestão dos filhotes).


III - O PARTO
É de extrema importância que, ao chegar a data prevista para o parto, o dono esteja atento ao momento da parição para providenciar tudo o que a cadela precisar. Para isto, o proprietário deve saber qual o comportamento da fêmea neste momento e como o parto ocorre de maneira natural.

 
3.1 - COMPORTAMENTO DA FÊMEA
Usualmente, ela torna-se agitada, muda de posição e normalmente procura lugares tranqüilos e escuros, podendo arrastar-se para baixo de cadeiras e outros móveis.
Imediatamente antes da parição, o animal cata papéis, roupas e outros objetos para fazer o ninho. O dono deve tomar cuidado, pois algumas cadelas podem se tornar agressivas nesta hora, ao passo que outras preferem a presença do dono.

3.2 - TRABALHO DE PARTO
O parto é o processo final da gestação e consiste em alterações hormonais, modificações corporais, como o aumento dos quadris para facilitar o nascimento, e o aumento do volume da vulva; estes fatores acabam por facilitar a expulsão dos filhotes do organismo materno. Nesta época, a cadela já deverá apresentar secreção de leite, pois as glândulas mamárias começam a se desenvolver a partir do segundo mês de gestação.
Quando se inicia o nascimento, a fêmea começa a ter contrações abdominais, o filhote começa a ser expulso e a primeira parte a ser vista é a bolsa amniótica (bolsa de água), com um pouco de líquido. Em seguida, a cadela inicia a retirada da placenta, que recobre o filhote e começa a lambê-lo; este ato promove a estimulação deste, além de secá-lo.
O primeiro filhote geralmente nasce entre 20 e 30 minutos após o início das contrações e os nascimentos subseqüentes podem variar de até duas a três horas, podendo chegar até a seis horas nos últimos filhotes.


3.3 - AUXÍLIO DO PARTO
Nos casos de cadelas inexperientes (primeiros partos), pode haver uma inabilidade na retirada dos envoltórios fetais (placenta); nos casos também em que os filhotes demorem a nascer pondo em risco a sua sobrevivência, o auxílio ao parto deve ser feito por um médico veterinário, pois manobras de ajuda realizadas por pessoas leigas podem pôr em risco a vida dos filhotes.

IV - CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO
Os proprietários devem estar atentos aos filhotes recém-nascidos, pois estes são muito frágeis; qualquer descuido ou intercorrências podem provocar sua morte.

Alguns cuidados básicos devem ser tomados para diminuir as taxas de mortalidade dos filhotes, como, por exemplo, o auxílio para a ingestão do colostro (secreção inicial das glândulas mamárias, secretada logo após o parto) e o aquecimento dos filhotes.
Ao nascimento, os filhotes apresentam sistema imunológico ainda não completamente desenvolvido, estando fortemente suscetíveis a doenças. Esta deficiência imunológica é suprida pela ingestão de colostro, que é rico em anticorpos, que promovem a defesa do organismo do filhote, devendo ser ingerido imediatamente após o parto, ou o mais cedo que o filhote o consiga fazê-lo, não devendo nunca ultrapassar nove horas após o nascimento.
Sabe-se que os recém-nascidos não têm capacidade de controlar sua temperatura corporal, estando sujeitos a variações de temperatura ambiental (muito quente ou muito fria) que podem afetá-los. Portanto, devem ser mantidos aquecidos pelo contato direto com a mãe ou de forma artificial.
A habilidade dos filhotes em eliminar fezes e urina também pode gerar problemas, pois os estímulos externos são necessários para isso. A mãe geralmente lambe os orifícios excretores (ânus e genitais externos do filhote) para estimular essas funções, que também podem ser estimuladas artificialmente em casos de filhotes órfãos. Estes cuidados serão esclarecidos no item a seguir.
4.1 - FILHOTES ÓRFÃOS
A morte da mãe logo após o nascimento dos filhotes, fêmeas doentes, fêmeas que abandonam a cria após cesariana, com instintos maternos pouco desenvolvidos e filhotes muito grandes, são causas freqüentes de filhotes órfãos. Este fato, considerado sempre como uma catástrofe, poderá, entretanto, ser superado com sucesso se todas as necessidades de cada filhote forem supridas por outros meios. A tarefa é bastante exigente, sendo necessário grande aplicação e dedicação para se atingir um resultado satisfatório.
Algumas medidas podem diminuir a mortalidade dos recém-nascidos órfãos, sendo que a alternativa mais óbvia é a substituição da mãe ausente por outra em estágio de lactação apropriado. Trata-se de uma medida que nem sempre é possível, pois requer uma grande coincidência para a substituição e um grande intercâmbio entre criadores; além disso, as fêmeas podem rejeitar os filhotes por não os reconhecer como seus. Este problema pode ser amenizado, esfregando-se os recém-nascidos com um pano com o cheiro da mãe adotiva e da secreção de seus filhotes. Caso a adoção seja eficiente e em período de lactação adequado, tornam-se dispensáveis quaisquer outros cuidados, uma vez que a mãe adotiva os fará.
Nos casos onde a fêmea não foi eficiente, o proprietário deverá substituir as funções da mãe. Estas funções abrangem a nutrição dos filhotes, manutenção da temperatura corpórea e estímulos que garantam a realização das funções vitais dos recém-nascidos.
Em casos de abandono ou morte da mãe, o proprietário deve realizar, imediatamente após o nascimento, o estímulo da respiração. Para isto deve-se fazer a limpeza do focinho do filhote recém-nascido e massagear-lhe de forma circular e cuidadosa o tórax. Após o estabelecimento dos movimentos respiratórios, os quais são facilmente observados pelo criador por meio do choro ou gritos e aumento e diminuição do volume do tórax, deve ser feito o estímulo da circulação periférica do animal. Esta é realizada de modo a substituir o estímulo de lambedura da cadela em todo o corpo do filhote, podendo ser realizada com massagem delicada, utilizando-se um pano limpo e seco.
Como já foi visto, cuidados com a temperatura corporal dos filhotes devem ser rapidamente tomados. Para isto, utilizam-se lâmpadas incandescentes, de modo a manter os filhotes aquecidos à temperatura de 30 a 32oC durante os primeiros cinco dias de vida, sendo gradualmente diminuída até 24oC nas próximas quatro semanas. O proprietário deve ter o cuidado, durante o aquecimento dos filhotes, para que não ocorra superaquecimento ou mesmo queimaduras por contato direto deles com a lâmpada. Para melhor controle da temperatura, pode-se utilizar um termômetro simples.
Os filhotes não devem permanecer em contato direto com superfícies frias ou que possibilitem a perda de temperatura corporal; para isto, devem-se utilizar panos e jornais velhos, trocados periodicamente de modo a garantir uma eficiente higienização.
Os recém-nascidos sofrem também graves processos de desidratação, o que pode ser evitado esfregando-se, na região ventral de cada filhote (na barriga e no peito), um pouco de óleo de bebê, a cada dois ou três dias.
A ingestão inicial de colostro é de fundamental importância para a manutenção da imunidade do filhote contra diversas doenças. Nos casos em que não tenham mamado o colostro, devem ser levados a um médico veterinário para que este, por meio de bancos de colostro ou outras medidas, realize a imunização dos filhotes.
A alimentação dos recém-nascidos pode ser realizada pelos proprietários de forma artificial, mediante o fornecimento de leite com formulação preestabelecida e citada a seguir. Deve-se ter em mente que os filhotes alimentam-se, com a cadela, em pequenas quantidades, uma vez que seu estômago não comporta grandes quantidades porções alimento. Desta forma, devem ser alimentados várias vezes ao dia, o que requer bastante dedicação e paciência do tratador.
O leite da cadela é mais "forte" que o leite de vaca, pois os cães mamam por um período máximo de um mês e precisam ganhar peso e condições para manutenção sem cuidados maternos.
O leite artificial pode ser armazenado em geladeira (não em congelador) durante uma semana, devendo ser retiradas pequenas quantidades que devem ser aquecidas a 40oC antes de utilizadas.
Estimuladas as funções vitais do filhote (temperatura e alimentação), o tratador deve também estimular os reflexos de urina e de defecação. Para tanto, utiliza-se algodão embebido em água morna ou óleo de bebê para massagear delicadamente o ânus e genitais dos filhotes várias vezes ao dia, após a alimentação, como a cadela faz.
O médico veterinário deve ser sempre consultado ao longo de todo o processo de cuidados com filhotes órfãos, principalmente em situações em que o tratador observe qualquer alteração na saúde de seus filhotes.


V - DO DESMAME AOS DOIS MESES DE IDADE


A partir do desmame, algumas providências deverão ser tomadas pelo proprietário, as quais poderão prevenir algumas doenças infecciosas e parasitárias. Estas medidas devem ser tomadas sob orientação de um médico veterinário, que irá indicar o produto a ser usado (medicamentos e vacinas), bem como a sua administração.

Cabe também ao médico veterinário indicar a ração adequada aos filhotes, detectar qualquer problema que possa acometê-los (doenças), bem como prescrever um tratamento compatível.
As principais infecções passíveis de prevenção pela vacinação anual, pelo médico veterinário, estão anotadas no quadro a seguir.

VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLEN, W. E., Fertilidade e Obstetrícia no cão. Ed. Varela. São Paulo. 1995. 197 p.
CHRISTIANSEN, I. B. J., Reprodução do cão e do gato. Ed. Manole. São Paulo. Pág. 179-228. 1988.
EDNEY, A. T. B., Nutrição do cão e do gato. Um manual para estudantes, veterinários, criadores e proprietários. Ed. Manole. São Paulo. 1987.
HOSKINS, J. D.; Pediatria Veterinária. Cães e gatos do nascimento aos seis meses. Ed. Interlagos - Rio de Janeiro. 1997 pág. 601.

ODENDAAL, J., Cães e gatos. Um guia de saúde. Ed., Varella. São Paulo. 1993. 165 p.

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